quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A BELA JANDAIA DO SUL



Estou a caminho, na estrada. À medida que o tempo passa, a distância vai diminuindo. 
Qual é o meu destino?  Uma cidade.  Não, não é a cidadezinha drumondiana, mas com certeza, ela tem alguma coisa em comum, de tal forma que me leva compará-la, cada vez que me deparo com  a “Cidadezinha Qualquer”.  
Enquanto percorro as curvas da estrada que deslizam sobre o terceiro planalto paranaense, vou contemplando o belo cenário, a visão panorâmica do vale que ao fundo, juntam-se ao céu azul, as plantações e alguns morros que a natureza caprichosa ali desenhou.
Meus olhos vão filmando o horizonte mesclado pela terra vermelha. Este, está quase todo tomado pelas plantações que matizam diferentes tons esverdeados.                                  
Eu já vi este chão coberto por cafezais, por tantas plantações diversas, pelos canaviais, pelas pastagens, e até por muito gelo; de granizo e de geadas.
À minha direita, o horizonte estende um tapete verde que ainda está molhado pela névoa tão alva que se eleva sobre Vale do Ivaí.  À esquerda, os campos se perdem ao longe em direção ao Cruzeiro.  Enquanto ganho a estrada, as cortinas do palco da vida vão se abrindo.  Já posso ver o alto da São Roque, veia que conduziu tantas alegrias nos tempos de infância.  Ali por perto está o Armazém do IBC, e me recordo, que sempre exalava um cheiro marcante de café seco.  Alguns graus no ângulo e já me aproximo, estou em direção ao centro da pequenina Jandaia.    Ainda vejo, um pouco mais ao fundo, lá no alto, a torre da igreja.    Não, não é uma qualquer, mas sim, a bela Igreja Matriz.  Lá, mais parece um farol que ilumina em todas as direções. O imponente monumento construído pelos pioneiros jandaienses, continua belo e bem cuidado.  Ali está incrustado como um diamante, testemunhando cada amanhecer.   
Já estou chegando na Getúlio Vargas.  Deste ponto a vejo quase por inteira. 
Mas que sensação é esta?   Algo que me faz sentir num tempo que não é meu. Que engraçado. Conforme avanço, meus sentidos vão ficando encharcados pelas marcas do tempo.  Vejo que o espaço toma forma daquilo que o tempo um dia apagou.
Uma névoa tão densa, tão úmida, vai tomando conta de mim.  Insisto, mas meus olhos pesam, me esforço, mas minha resistência vai ficando cada vez mais enfraquecida.   Estou entregue ao destino, e ele não parece estar disposto a entender e atender meus murmúrios.
Das perguntas que faço, a nenhuma delas tenho respostas.  
Uma brisa fresca, com um aroma incomparável, toma conta.  A névoa de outrora vai se dissipando.  Aos poucos vou recobrando os sentidos.  Tateando, sinto ao meu redor folhas misturadas ao cheiro verde das matas.  O espaço ainda parece confuso, mas sinto que estou em outra dimensão, a de um tempo que não é meu.  Vejo as barras dos vestidos longos, que se arrastam sobre o solo vermelho. Correm ligeiras, mulheres virtuosas, Marias de seus Josés, meninas, mulheres, esposas e mães, prontas em juntar forças, e em comunidade, construírem os sonhos com suas famílias. 
Estou ali. Eu as vejo, mas percebo que não sou vista.  Quero entender o que está acontecendo, mas estas respostas ficam suspensas num mistério sem fim.
Estão todas tão ocupadas. Umas correm com a lenha e que acomodam ao fogão de taipa, enquanto outras lavam as indumentárias sertanejas, junto a bica de água da mina. 
Próximo dali, o riacho.  Não, não é o riacho poluído que desemboca em nossos rios.    Não, neste, a água é cristalina, contaminada apenas com a pieguice das crianças que ali brincam felizes. 
O clima fresco emoldura o cenário. A vida acontece. A água vinda da fonte, do veio da terra escorre e serpenteia pelo solo.  É certo que estando ali, dali não tenho vontade de sair.
Que realidade é esta?   De onde veio?  De qual livro de história?   De qual filme?  As respostas? Nenhuma.
O entardecer vai chegando bem devagar, escondido atrás das árvores de folhas tão verdes. O sol ainda reluta e tenta adiar o anoitecer, mas as nuvens que passeiam pelo céu tão azul, implacáveis, e o crepúsculo confirma: já é tarde. Enquanto isso, ecos de alegria, das crianças vão subindo em direção da lua, e de lá vão surgindo o caminho das estrelas; da Dalva, das Três Marias e do Cruzeiro do Sul.  Aos poucos vão se juntando o povo daquele lugar: são pais, filhos, irmãos, primos e os agregados
Com suas vestes encharcadas pelo suor juntado ao longo do dia, também escondem o cansaço e a alegria de serem desbravadores nesta terra.
Em seus olhares sedentos de vida, mostram que ali estão homens de fibra, dotados de uma força descomunal, da bravura, da ânsia profunda e apaixonante em desbravar as matas, em semear nos veios de seu solo. Semeiam sonhos, oferecem de corpo e alma o próprio sangue. Derramam gota por gota de seu suor, para mais tarde ceifar a grande colheita.  
E esses homens e mulheres não tem a menor noção de onde seus sonhos irão chegar. Não imaginam que o tempo perpetuará tanto labor.  Estão ali, cheios de vontade, cheios de metas, embrenhando-se nas matas, gritando seus medos no meio das florestas, pedindo para o universo escutar e para Deus ouvir e abençoar. 
O anoitecer os abraça e o cansaço os vence.  A noite os acalenta.  
O dia amanhece e dá as boas-vindas aos pioneiros, primeiros habitantes das terras loteadas e vendidas parceladas em Réis, pela Companhia Inglesa de Lord Lovat.

As casinhas avisam através da branca fumaça das chaminés, que mais um dia começa.
O gole de café quente, escorre pela garganta acordando os sentidos. Os homens saem com suas ferramentas para mais um dia de árduo trabalho.
Conforme percorro a trilha batida de rumo incerto me deparo com uma clareira aberta na mata, marcando o chão a perder de vista.  Sob este, estão uma infinidade de guerreiros. Estes, batem as ferramentas num ritmo acelerado, de quem tem pressa do progresso. 
Lá se juntam homens de todas as idades e laboram enquanto seus corpos vão sendo salgados pelo suor e pelas lágrimas: de alegrias, de saudades e da dor nas mãos calejadas.
Agitados, correm de um lado a outro, batem as mãos e os pés, riem, cantam, e gritam para espantar as dificuldades.  Batem, serram, socam, carregam, martelam, e aos poucos forjam os trilhos do progresso.   E o tempo traz o milagre, a esperada conexão do mundo verde rural ao urbano tão distante. 
Eis que ecoa pelos ares, o canto dos pássaros e maritacas jandaienses festejam e enfeitam o céu tão azul.  O apito da primeira Maria Fumaça anuncia o progresso. Nela embarco e para retornar. 
Lá estão, lá ficarão, fascinados e extasiados pela alegria cada vitória.   Homens e mulheres, Josés e Marias, seguirão seus destinos amalgamados para sempre nessa epopeia, nessa história que continua sendo escrita por todos que aqui viveram, vivem e viverão.  É festa no céu, é festa na terra, é festa na Praça do Café.
Nos trilhos do progresso, há 64 anos, o pequeno povoado continua crescendo, vai sendo diariamente construído por seu povo,  que a compõe e aqui segue esculpindo  A BELA JANDAIA DO SUL.


Por Lúcia de F. M. Peres

domingo, 23 de dezembro de 2012

A ESCOLA AMARELA

      


São Roque,  a escola amarela, ficava lá, no meio do nada, no meio de tudo.  Não tinha quase nada, mas ao mesmo tempo tinha tudo.   Na verdade, lá estava nosso mundo precioso, nosso universo encantado e que tanto nos fascinava.

O grande casarão amarelo que ostentava em lados opostos, altas janelas basculantes, que ao mesmo tempo  nos encantavam  e assustavam, pelo modo de abrir e fechar. O fascínio ao abrir e  ver  como a luz ia tomando conta de tudo, misturava ao medo, de que pudesse escapar, bater forte e machucar quem por perto estivesse. Havia sempre aqueles que  dispostos a a aventura de abri-las e fechá-las.  De certa maneira era um momento concorrido para alguns.   Havia na frente, além da mesa da professora, a bandeira, e três lousas, em tamanhos diferentes, que de lá parecia espreitar, pois  sempre éramos encarregados de copiar de lá, aquelas lições que enchiam  várias folhas dos cadernos, tanto de linguagem como de aritmética.  As séries eram divididas por quatro fileiras, de primeira a da quarta série. 

Dona Maria, era calma e  tinha uma voz tão doce, mas ao mesmo tempo era exigente, ensinava com o equilíbrio do amor e o rigor, que classes naqueles moldes, com alunos de diferentes idades e séries exigiam.   Ainda lembro como alfabetizava com tanta paciência.  Enquanto segurava o giz, ia traçando linhas sobre a lousa e magicamente encantava com lindas canções...  E com ela embarcávamos numa canoa,  e cantávamos: a canoa virou...  vou deixar ela virar...   e a  canoa virou palavras e lembranças em nós. Se houve alguém que não soube remar, nós nunca ficamos sabendo.   Da parte dela, vieram  os remos, os barcos, e um oceano inteiro a desbravarmos. 

Passado um tempo, devido ao número de alunos, dividiram as turmas e prosseguimos primeiro e segundo anos,  no período da tarde,  com a professora Diva.  Ela era assim, bem divertida,  e gostava de se envolver nas brincadeiras durante o recreio.   Então este momento tão esperado virava  festa.  Tivemos oportunidades distintas,  em que cada uma deixou em nós seus legados.  

Pudemos continuar nossa epopeia, com maior atenção, e então iniciar nossa caminhada pelas curvas da estrada, da “Caminho Suave”. Conhecemos a Lalá.  A personagem da cartilha, que foi nos mostrando conforme o compasso do relógio, as muitas lições,  até que chegasse ao fim.

Naqueles tempos, as carteiras eram daquelas em duplas, geminadas, então era normal os alunos sentarem lado a lado.  Não havia problema algum nisso,  e nem mesmo nos dias de prova. Nossa formação não permitia que sequer olhássemos para os lados.   As carteiras tinham um tampo que levantava e dentro podíamos guardar a bolsa. A minha era de couro marrom e  fechada por dois botões.  Eu herdara de meus irmãos mais velhos, mas apesar de usada,  era um luxo. E eu  me  sentia privilegiada, pois a maioria levava os materiais em bornais de tecido.  Para não me sentir melhor, pedi que minha mãe também fizesse uma bolsa de tecido, e ela me atendeu de um jeito bem caprichoso. Mas havia o desconforto com a umidade do orvalho das manhãs ou com a chuva e eu acabei deixando de lado. Assim, voltei pra minha velha bolsa de couro. Dentro dela: os cadernos caprichosamente encapados com plástico vermelho, enfeitados com muitas figuras e decalques, a cartilha Caminho Suave, o lápis de escrever daquele que lembrava um bambuzinho, o apontador verde e alguns poucos lápis de cores. Naquele tempo, as opções por cores ainda eram muito restritas.

Assim  o tempo passaria.   Num lugar de céu tão azul, com chuva de verão, sempre surgia no céu belos arco-íris.  Quantas vezes, sentados no gramado, apreciávamos aquele arco  lindo em algum ponto do céu. Sempre havia  alguém que viajava pela imaginação, sonhando com o grande pote de ouro ao final do arco íris. Quase todos nós éramos assim - sonhadores.  Que vontade de estar lá no alto e descer escorregando como num tobogã, até chegar ao seu final.   O que não imaginávamos,  é que o grande tesouro não estava lá, e sim, exatamente no ponto onde estávamos.   Sim, bem ali,  estava o nosso maior tesouro: a nossa infância feliz, tão cheia de risos, das vozes,  das cantigas de roda, das cinco marias, do anel precioso, da balança caixão, do pique,  da salva,  da betes e  das brincadeiras que nos acompanhariam para sempre...

Lá ficaram nossos anseios, nossas angustias,  diante do desconhecido, nossa paura misturada com a vontade de mostrar nossos avanços, àquela que sempre chegava de surpresa: a Diretora - Dona Maria BemWenites, cujas visitas  eram sempre esperadas. Ela  sempre aparecia numa kombi  do departamento.  Bastava surgir lá no alto do morro, que alguém já gritava: A diretora vem vindo!    Era uma gritaria, a escola toda em polvorosa. Uns que gostavam e outros que tinham medo da sabatina, do exame, ou até mesmo da equipe da vacina, que naqueles tempos também faziam suas surpresas na escola.   Era sempre um risco, algo sempre incerto, mas o que ainda está latente em mim, são aqueles olhos azuis esverdeados, aquele jeito de branca de neve e a delicadeza daqueles gestos. Num tempo em que EAD não existia, a diretora tinha que se desdobrar e dar conta de visitar tantas outras escolas.  Dirigia assim, com visitas esporádicas e surpresas em tempo incerto. Mesmo assim, era como se estivesse sempre por ali, sempre conosco. Nossa disciplina e dedicação sublinhavam isto. Éramos crianças com sede do saber, querendo ser gente, sermos reconhecidas, notadas  pela maneira de comportar de aprender  e de ser

As manhãs úmidas e ainda orvalhadas seriam enxugadas pelo sol que caprichosamente iria também clareando nosso mundo interno e  dentro de cada um.  Moldaria  o saber em tantas vidas que por ali passariam.    As regras existiam e eram cumpridas. A professora era alguém por quem tínhamos um misto de afeto, ternura e muito respeito.  Alguém muito importante  que segurava em nossas mãos.  Alguém que plantando seu amor nos salvaria da ignorância. Que nos guiaria e nos conduziria por caminhos desconhecidos.    O mesmo fascínio que nos governava, também nos fazia redimir e demonstrar singelos sentimentos diante daquela autoridade. O amor movia as engrenagens e nos afastava da ignorância.   Éramos crianças, sim apenas crianças...   Mas já querendo ser gente, fazendo direito, conforme aprendíamos com nossos pais.  Com respeito, sem afronta, movidos não pelo medo, mas pela autoridade, que ali nos servia de ponto de referência.

Na máxima de dizer que tudo passa, há uma contradição que insiste: aquele universo não passa, permanece em mim. O aroma da natureza abundante, do capim gordura, dos eucaliptos, da erva doce, das laranjeiras que emolduravam aquele lugar, não passam.  Não passam também, as risadas, os gritos, as brincadeiras do recreio, a hora de recitar poesia, e os contos maravilhosos.  A oração de entrada ficou. O Doce Coração de Maria deixou doçura. O Santo Anjo ainda  me guarda e  continua Divando em minhas lembranças.

A mesa da professora continua lá...  E aquele jaleco branco também...   As escritas na lousa, o pó branco do giz de dentro e a poeira vermelha de fora, a chuva, as trovoadas, o barro liso, as pedras do caminho, a criançada da região. Aqueles bloquinhos de gente bordando diferentes caminhos de volta para casa. O milharal,  que iria virar fubá lá no moinho dos Rochhas,  a cana  que virava  rapadura feita por meu pai,  e que eu compartilhara com queijo feito por  minha mãe, tantas vezes no recreio.   O  cheiro do arroz sendo cortado na safra, o cafezal em flor ou em cereja nos pés carregadinhos, o carro de bois que vinha pela estrada,  rangendo ao longe e o gado que nos assistia,  ruminando bem ali, do outro lado da cerca.

Ficaram em algum lugar tantas lembranças, com a abundância de afeto, as regras tão eficazes e fundamentais que formataram  aqueles que  por ali passaram.

A São Roque continua lá.  O tempo passou, mas não conseguiu desbotar sua cor. Ela não passa e em minhas lembranças continua intacta, exatamente como a vi pela última vez lá do alto do morro: A ESCOLA AMARELA.


Por:  Lúcia de Fátima Marques Peres

Tempos de Escola - V -    










 



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

SER FELIZ EM 12/12/12

Ontem...
Ainda ontem o calendário marcava 7/7/77...
Então  o Professor João saiu distribuindo pela sala, um singelo cartão, deixando impresso em minha memória os dizeres: Quem será, e onde estará você em 8/8/88...   O tempo da escola passou e a escola da vida foi nos ensinando diariamente lições que nos completam todos os dias...Lições que estão sempre por acontecer. Parece que estamos sempre com tarefas de casa por fazer e por serem corrigidas. Estamos sempre fazendo leituras silenciosas enquanto o mestre Tempo nos observa atentamente. Junto com tantas lições que exige tanto de nós, ainda podemos contar com os intervalos, ou melhor com o recreio, com as horas festivas  da vida. Horas festivas que o coração explode no compasso cheio de tanta felicidade.
O tempo se encarregou de me trazer 10/10/10  e 11/11/11.  Esta data foi marcada por grandes emoções, pois pude reencontrar ainda que virtualmente, com várias pessoas em diferentes pontos do mundo. Pessoas que fizeram parte da minha vida nos tempos de escola. Entre essas, quero destacar aquele que foi o diretor do meu colégio, o Prof. Fredi. Quantas emoções foram compartilhadas através das fotos, verdadeiras relíquias que ele vai postando. Adentramos 2012, com o espocar de grandes emoções que caprichosamente  vão nos surpreendendo com as mais diferentes sensações. Que maravilha poder reativar a memórias, resgatar tantas lembranças, rever tantas imagens congeladas, mas que nos impulsiona a sentir a mesma energia dos tempos de outrora. Imagens que nos leva a refletir sobre um tempo bom que pudemos compartilhar, mas que também comprova quantas percas o mundo foi perdendo com tanta evolução. Ao mesmo tempo, em que os avanços tecnológicos nos propicia uma reunião de amigos num bate papo a distância, como se o portal do tempo nos abraços num mesmo espaço, num mesmo tempo, num tempo que nem parece  nosso, num agora que parece paradoxo, longe mas ao mesmo tempo perto. Qual será o mistério de tudo isso?  Francamente? Não há resposta para isto. Tamanha é a emoção que sinto com este reencontro virtual e real com o passado. Sim, pois a alegria que sinto e percebo em meus amigos, é real, sem medida, sem igual.
Agora, as vésperas de 12/12/12, eu ouvi de tudo.   Pessoas  colocando seus medos, suas angustias, outras que fazem graça, levando na brincadeira, umas esperando o fim do mundo,
e outras,  nada esperando. Por tradição de décadas, esperei  por esta data em contagem regressiva... Lembrei do meu professor, dos meus amigos da escola, do reencontro marcante, daquele que literalmente  tornou-se mestre recentemente.   Agora  posso dizer com propriedade: que felicidade! Estou aqui.
 Olho para traz e vejo uma longa estrada.   Entre planícies e planaltos, rios e cachoeiras,  terrenos  íngremes e precipícios, muitas coisas boas aconteceram... É claro,  outras nem tanto...  Entre sonhos e pesadelos, meus olhos optam agora e sempre,  pela tela com as cores mais lindas da minha história.  Uma tela que posso apreciar e rever tantas coisas boas que vivi...  Tantas que aprendi, que dividi com pessoas lindas que marcaram minha existência.   Meus queridos irmãos de alma,  inesquecíveis... Todos aqueles  que me apoiaram  estendendo seus braços, nos momentos mais difíceis. Que viveram comigo dias gloriosos, riram comigo diante de cada marco de emoção. Que aplaudiram a minha alegria. Que fizeram minha alma sucumbir e revolver um turbilhão de emoções. Que teve a nobreza de me inserir em seus escritos dividindo com grandeza  o pódio de suas conquistas.  Pessoas queridas que vou levar por toda minha vida, terrena e eterna. Quanta alegria poder dizer, estou aqui vivendo tantas emoções, quantas coisas boas  estão acontecendo.
 Meu professor, de onde estiver, quero dizer que cheguei aqui.  Consegui, estou vivendo e buscando... SER FELIZ EM 12/12/12.









segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A CRIANÇA ESTÁ SALVA!




É tarde...
Tarde da noite
Virando madrugada.
Ecos denunciam o pulsar do coração,
Ecoam no silêncio da longa noite
Que não tem luar...
Longa noite
Que não quer passar,
Noite penosa na penumbra hospitalar...
Homens e mulheres  de vestes brancas
Caminham  apressados de um lado a outro...
Levam frascos de vida e amor,
Voltam com outros transbordando,
A imensidão da esperança.
A criança geme,
Sente o calor vulcânico
Assopar sobre o relevo corpóreo...
Olhos maternos lagrimejam,
As gotas que salvam,
Percorrem os caminhos e
Rompem vagarosamente,
E vai regando  flores nos vasos sanguineos...
A vida resiste e insiste,
Os minutos passam...
E vão transformando horas, em dias e
Marcando o tempo.
Os primeiros sinais da luz
Avisam que a aurora esta chegando...
Com ela as cores do dia,
O balbuciar da criança,
O aliviado sorriso materno...
As marcas de um tempo
Sempre tão  precioso,
Vão ficando impressas,
Sendo capazes de extinguir tantas dores,
Tantas angústias...
Capazes de imprimir e revelar
Em mãos humanas,
A ação do Criador..
Homens e mulheres de branco,
Agora retornam com o veredito:
A CRIANÇA ESTÁ SALVA!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Hoje é 11/11/2011

O calendário hoje marca 09/09/2020. 
Ano atípico.  Os alunos distante da escola. Sem 7 de setembro, sem o rufar dos tambores, sem cornetas, sem bateria, sem a baliza....  Sem a energia vibrante, sem a aelegria....    Sem professor na escola....
Há professores, por aí que continuam marcando hístórias. 
A MESTRES por aí, que continuam fazendo a diferença não apenas pelos conteúdos programáticos, mas muito mais que isso, porque eles olham para seus alunos, com olhar de amorosidade, partilham sabedoria de vida, semeiam esperanças, reforçam pilares fragilizados, sorriem com emoção,  para além do físico e imprimem na alma aquilo que se leva para sempre... 

Eis que o tempo passou tão depressa... Eu nem vi passar...
Mas, que incrível.... Como pode depois de tanto tempo eu ainda me lembrar do querido Professor João Welter Júnior? 

Simples. Ele não era apenas um professor. Muito além disso, ele tinha a habilidade de lapidar almas, de atingir profundamente cada um de nós que passamos por seu caminho. Nós passamos, seguimos nossos caminhos, mas eu posso afirmar, que sempre o trouxe comigo.  Só posso sentir imensa gratidão pelo que ele cativou em mim.  Sinto enorme alegria  voltar meu olhar e ver o quanto ele fez a diferença na educação Jandaiense. 
Com todo respeito e gratidão.
Obrigada Professor!!



“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuaremos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia de nossas palavras. O professor assim, não morre jamais.”
  Rubem Alves
Lembrando...
Ontem o calendário assinalava: 7/7/77
Onde estaria em 8/8/88?   
Quem seria em: 9/9/99?
Você seria o fruto de seus esforços em:  10/10/10
Hoje o calendário assinala: 11/11/11
E EU ESTOU AQUI !!!
Saudades...

domingo, 12 de junho de 2011

Tchau avião! Tchau avião! Tchau avião!


É domingo.  Gravo em minha mente, imagens e impressões desta viagem tão especial.    Fecho os olhos, e  de repente me vejo no  passado... Minha infância ecoa pelos ares gritos de felicidade, enquanto meus olhos filmam aquela ave de metal que corta o céu da minha Jandaia. Minha imaginação sugere: como deve ser bom voar... Enquanto ele voa, de braços abertos vou voando também.   Quando percebo que vai desaparecendo no céu tão azul, num misto de alegrias e devaneios, grito o mais alto que meus pulmões podem suportar: Tchau avião! Tchau avião! Tchau avião!      
Em pleno monólogo quero acreditar que lá em cima alguém possa ouvir... Fico sonhando... Que vontade de voar!
Em devaneios fico a sonhar...    Como deve ser bom ver tudo  lá de cima.. Ver como a águia, a imensidão do horizonte, as montanhas, os rios, os homens de todos os lugares, os animais, as cidades, as nuvens... Como será atravessar as nuvens? O avião que trouxe tanta felicidade, já passou, deixando aquela sensação de até qualquer dia, até qualquer hora...   Mas até quando? Por quanto tempo?
Recordo da  frase: “Você nunca vai andar de avião!”  O tempo comprovaria mais tarde, que todo mundo pode voar...

O ronco das turbinas me chacoalha e me traz de volta... Vejo a delicadeza da Comissária de azul, olhar sereno sorriso nos lábios e cabelo bem penteado. Com voz doce e segura, dá as boas vindas e passa as informações necessárias. As turbinas continuam num ritmo cada vez mais intenso, mais vibrante, me fazendo lembrar o som alegre e enérgico da fanfarra dos tempos do colégio.

Aqui estou. Meus olhos estão abertos, mas que engraçado, eles insistem em parecer fechados. Estou anestesiada. Enquanto meu coração bate descompassado por tantas emoções, minhas memórias insistem em continuar com aquelas imagens... “Tchau avião! Tchau avião! Tchau avião! ”   A fala do comandante me dá a certeza de que não estou sonhando. A poltrona que confortavelmente me acomoda, a pequena janela de cantos arredondados, as revistas e flyers que estão anexados à poltrona e que informam normas de segurança e informações diversas da empresa AZUL, enfatizam a certeza de que nada ali é utopia, tudo é real. Os primeiros movimentos em busca da pista para decolar já começam... Percebo que há muitas pessoas. Algumas demonstram tanta tranquilidade, que voar parece ser rotina, mas outras, percebo pelas câmeras digitais em suas mãos, pela forma alucinada como se comportam, não deixam dúvidas: são de primeira viagem. No ponto de decolagem, alguma coisa explode dentro de mim, é uma sensação maravilhosa e indescritível. O avião toma impulso e decola. É noite. Vejo um mar de luzes, que a medida que ganhamos altitude, vai ampliando. O mar de luzes e belíssimo e extenso... É o mar que me acolheu, que acolheu meus sonhos e o de tantas outras pessoas. Como a águia, posso ver a dimensão daquela visão magnifica  de Campinas ficando para traz. Vejo através das fendas nebulosas muitas cidades, minúsculas, algumas com poucas ruas... Tenho a sensação de Gullíver em Lilipute.
Ao meu lado, um casal. Suponho que estejam vindo de muito longe. Europa talvez, pois já parecem adormecidos. Na poltrona adiante, um senhor, demonstra estado de convalescença. Notei que recebeu atenção especial das comissárias. Ainda no saguão, disponibilizaram uma cadeira de rodas a fim de proporcionar maior conforto. Pensei comigo mesma: São pequenos detalhes que fazem toda diferença. Ao toque de um sinal, a comissária avisa que vamos passar por uma turbulência. Estou prestes a descobrir o que vem a ser a famosa “turbulência”. Nada mais do que solavancos aéreos ao transpassar nuvens intensas. Acredito que estamos voando em altitude máxima. Já não vejo nenhuma luz lá fora. Nem das cidades, nem das estrelas. Lá fora tudo está escuro. Somente o ruído das possantes turbinas. Dentro do avião, tudo é silêncio. Nenhuma conversa, nenhum choro de criança, nenhum barulho de papel de bala ou coisa parecida.
De repente, surge a atenciosa comissária, apresentando o menu a escolha do passageiro. Sem demora retorna com a cortesia. Pela primeira vez água AZUL; transparente, cristalina, inodora, incolor, mas AZUL. Um clarão lá fora chama minha atenção: percebo que é uma cidade. Começo então a mapear geograficamente aquele espaço marcado por infinitas luzes. As lembranças que ressurgem dentro de mim, quase me dão a certeza de concluir: já estamos na fronteira do Estado de São Paulo com o Paraná. O tempo que gastei refletindo sobre está possibilidade me deu a certeza, quando brilharam também, as luzes do avião. Alguns minutos a mais, pude identificar  a BR 369,que tranpassando a cidade, pela Companhia Inglesa de Lord Lovat:  é Londrina.
Sensações diversas tomam conta de mim, ao mesmo tempo que a altitude diminuia. As cidadezinhas da minha vida estavam sendo vistas por mim dessa vez, por um ângulo totalmente novo. Lá embaixo estavam os riachos iluminados de minha infância. Os pontos luminosos eram referências para visualizar a menina que sonhava voar. Parte de mim estava lá, eveu estava ali,  explodindo de felicidade, procurando responder silenciosamente ao monólogo depois de tantos anos...
Estendida no relevo, lá estava a cidade dos Ipês, cortada pelo trópico de capricôrnio, tão plana, e agora toda bordada em dourado: a tão inesquecível e ecológica Maringá. Aquela dos bosques da minha infância. Últimos minutos voando... Uma sensação repentina  desenha no ar um ângulo de 15º, mas indefinido. A comissão de luzes demarca a pista em continência e define os caminhos terrestres da aeronave, e já ou finalmente, o pouso.    Alegres, felizes, estamos todos; passageiros, tripulantes, quem chega e quem espera.
Pacientemente, todos tomam o caminho de saída. Primeiro, os dos assentos especiais: entre eles os idosos. Os mais afoitos, desta vez também aguardam.
Ao descer as escadas, sem pressa, aprecio o horizonte. Sinto a brisa maringaense: o cheiro verde no ar. Percebo lá embaixo, junto aos comissários que duas cadeiras de rodas, aguardam por seus devidos passageiros. A liberdade de ir e vir está ali, sutilmente dando boas vindas e garantido a igualdade à todos. Em fila indiana, todos seguem rumo ao saguão. Atravesso a porta para o abraço de quem espera. Mais uma vez, volto meu olhar para o majestoso avião. Ele está lá. Tão perto, tão real, tão poderoso. Capaz de romper as barreiras do tempo, encurtar distância, aproximar pessoas que se querem bem. A máquina está lá, em seus bastidores, homens e mulheres de todas as idades, de tantos lugares, moldados e forjados pelo fogo AZUL do amor.  Ocupando seus lugares como numa orquestra, transformando trabalho em missão, música, e poesia. O sonho de infância, agora é para sempre AZUL.   O coração palpita, e meus pensamentos repetem as frases de outrora, desta vez porém, com outra conotação, o adeus é para breve: Tchau avião! Tchau avião!  Tchau avião!


  Por     Lúcia de Fátima Marques Peres








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