domingo, 12 de junho de 2011

Tchau avião! Tchau avião! Tchau avião!


É domingo.  Gravo em minha mente, imagens e impressões desta viagem tão especial.    Fecho os olhos, e  de repente me vejo no  passado... Minha infância ecoa pelos ares gritos de felicidade, enquanto meus olhos filmam aquela ave de metal que corta o céu da minha Jandaia. Minha imaginação sugere: como deve ser bom voar... Enquanto ele voa, de braços abertos vou voando também.   Quando percebo que vai desaparecendo no céu tão azul, num misto de alegrias e devaneios, grito o mais alto que meus pulmões podem suportar: Tchau avião! Tchau avião! Tchau avião!      
Em pleno monólogo quero acreditar que lá em cima alguém possa ouvir... Fico sonhando... Que vontade de voar!
Em devaneios fico a sonhar...    Como deve ser bom ver tudo  lá de cima.. Ver como a águia, a imensidão do horizonte, as montanhas, os rios, os homens de todos os lugares, os animais, as cidades, as nuvens... Como será atravessar as nuvens? O avião que trouxe tanta felicidade, já passou, deixando aquela sensação de até qualquer dia, até qualquer hora...   Mas até quando? Por quanto tempo?
Recordo da  frase: “Você nunca vai andar de avião!”  O tempo comprovaria mais tarde, que todo mundo pode voar...

O ronco das turbinas me chacoalha e me traz de volta... Vejo a delicadeza da Comissária de azul, olhar sereno sorriso nos lábios e cabelo bem penteado. Com voz doce e segura, dá as boas vindas e passa as informações necessárias. As turbinas continuam num ritmo cada vez mais intenso, mais vibrante, me fazendo lembrar o som alegre e enérgico da fanfarra dos tempos do colégio.

Aqui estou. Meus olhos estão abertos, mas que engraçado, eles insistem em parecer fechados. Estou anestesiada. Enquanto meu coração bate descompassado por tantas emoções, minhas memórias insistem em continuar com aquelas imagens... “Tchau avião! Tchau avião! Tchau avião! ”   A fala do comandante me dá a certeza de que não estou sonhando. A poltrona que confortavelmente me acomoda, a pequena janela de cantos arredondados, as revistas e flyers que estão anexados à poltrona e que informam normas de segurança e informações diversas da empresa AZUL, enfatizam a certeza de que nada ali é utopia, tudo é real. Os primeiros movimentos em busca da pista para decolar já começam... Percebo que há muitas pessoas. Algumas demonstram tanta tranquilidade, que voar parece ser rotina, mas outras, percebo pelas câmeras digitais em suas mãos, pela forma alucinada como se comportam, não deixam dúvidas: são de primeira viagem. No ponto de decolagem, alguma coisa explode dentro de mim, é uma sensação maravilhosa e indescritível. O avião toma impulso e decola. É noite. Vejo um mar de luzes, que a medida que ganhamos altitude, vai ampliando. O mar de luzes e belíssimo e extenso... É o mar que me acolheu, que acolheu meus sonhos e o de tantas outras pessoas. Como a águia, posso ver a dimensão daquela visão magnifica  de Campinas ficando para traz. Vejo através das fendas nebulosas muitas cidades, minúsculas, algumas com poucas ruas... Tenho a sensação de Gullíver em Lilipute.
Ao meu lado, um casal. Suponho que estejam vindo de muito longe. Europa talvez, pois já parecem adormecidos. Na poltrona adiante, um senhor, demonstra estado de convalescença. Notei que recebeu atenção especial das comissárias. Ainda no saguão, disponibilizaram uma cadeira de rodas a fim de proporcionar maior conforto. Pensei comigo mesma: São pequenos detalhes que fazem toda diferença. Ao toque de um sinal, a comissária avisa que vamos passar por uma turbulência. Estou prestes a descobrir o que vem a ser a famosa “turbulência”. Nada mais do que solavancos aéreos ao transpassar nuvens intensas. Acredito que estamos voando em altitude máxima. Já não vejo nenhuma luz lá fora. Nem das cidades, nem das estrelas. Lá fora tudo está escuro. Somente o ruído das possantes turbinas. Dentro do avião, tudo é silêncio. Nenhuma conversa, nenhum choro de criança, nenhum barulho de papel de bala ou coisa parecida.
De repente, surge a atenciosa comissária, apresentando o menu a escolha do passageiro. Sem demora retorna com a cortesia. Pela primeira vez água AZUL; transparente, cristalina, inodora, incolor, mas AZUL. Um clarão lá fora chama minha atenção: percebo que é uma cidade. Começo então a mapear geograficamente aquele espaço marcado por infinitas luzes. As lembranças que ressurgem dentro de mim, quase me dão a certeza de concluir: já estamos na fronteira do Estado de São Paulo com o Paraná. O tempo que gastei refletindo sobre está possibilidade me deu a certeza, quando brilharam também, as luzes do avião. Alguns minutos a mais, pude identificar  a BR 369,que tranpassando a cidade, pela Companhia Inglesa de Lord Lovat:  é Londrina.
Sensações diversas tomam conta de mim, ao mesmo tempo que a altitude diminuia. As cidadezinhas da minha vida estavam sendo vistas por mim dessa vez, por um ângulo totalmente novo. Lá embaixo estavam os riachos iluminados de minha infância. Os pontos luminosos eram referências para visualizar a menina que sonhava voar. Parte de mim estava lá, eveu estava ali,  explodindo de felicidade, procurando responder silenciosamente ao monólogo depois de tantos anos...
Estendida no relevo, lá estava a cidade dos Ipês, cortada pelo trópico de capricôrnio, tão plana, e agora toda bordada em dourado: a tão inesquecível e ecológica Maringá. Aquela dos bosques da minha infância. Últimos minutos voando... Uma sensação repentina  desenha no ar um ângulo de 15º, mas indefinido. A comissão de luzes demarca a pista em continência e define os caminhos terrestres da aeronave, e já ou finalmente, o pouso.    Alegres, felizes, estamos todos; passageiros, tripulantes, quem chega e quem espera.
Pacientemente, todos tomam o caminho de saída. Primeiro, os dos assentos especiais: entre eles os idosos. Os mais afoitos, desta vez também aguardam.
Ao descer as escadas, sem pressa, aprecio o horizonte. Sinto a brisa maringaense: o cheiro verde no ar. Percebo lá embaixo, junto aos comissários que duas cadeiras de rodas, aguardam por seus devidos passageiros. A liberdade de ir e vir está ali, sutilmente dando boas vindas e garantido a igualdade à todos. Em fila indiana, todos seguem rumo ao saguão. Atravesso a porta para o abraço de quem espera. Mais uma vez, volto meu olhar para o majestoso avião. Ele está lá. Tão perto, tão real, tão poderoso. Capaz de romper as barreiras do tempo, encurtar distância, aproximar pessoas que se querem bem. A máquina está lá, em seus bastidores, homens e mulheres de todas as idades, de tantos lugares, moldados e forjados pelo fogo AZUL do amor.  Ocupando seus lugares como numa orquestra, transformando trabalho em missão, música, e poesia. O sonho de infância, agora é para sempre AZUL.   O coração palpita, e meus pensamentos repetem as frases de outrora, desta vez porém, com outra conotação, o adeus é para breve: Tchau avião! Tchau avião!  Tchau avião!


  Por     Lúcia de Fátima Marques Peres








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